
A presença cada vez maior das bikes em Berlim não se resume ao circuito da vida noturna. Graças a uma série de políticas públicas implantadas há mais de dez anos, a cidade tem hoje um total de 775 quilômetros em ciclovias, quase 34 vezes a mais que São Paulo, cuja população é três vezes maior que a de Berlim. Estima-se que a metrópole alemã tenha 500 000 usuários de bikes, correspondendo a quase 10% do tráfego.
O mais impressionante de tudo é que essa multiplicação de ciclistas ocorre num lugar onde marcas como Mercedes e BMW sempre foram motivo de orgulho nacional. “Aqui, as bicicletas se tornaram parte da cultura, na questão do trânsito elas são consideradas iguais aos carros. Se um automóvel está atrás de uma bicicleta, não acontece de ele buzinar ou ultrapassar”, afirma o consultor mineiro Gustavo Gardini, 33 anos, que mora em Berlim desde 2003.
Um dos serviços disponíveis para estimular a multiplicação de ciclistas urbanos é o Call a Bike, implantado na Alemanha em 2001. Para sair pedalando em uma das 6 000 bicicletas que ficam disponíveis em estacionamentos espalhados pelas ruas de 60 cidades do país, basta fazer uma ligação ou entrar no aplicativo online pelo celular. O sistema destrava o cadeado da bike escolhida e, ao fim do percurso, calcula o valor da corrida com base no tempo e na distância percorridos — os preços são 8 centavos de euro o minuto ou 9 euros o dia. Somente no último ano, o aumento do número de usuários do Call a Bike foi de quase 70% na Alemanha.
A estatal Deutsche Bahn, empresa responsável pela administração do serviço, encara o sistema hoje como um elo importante da rede de transporte. “Cada bicicleta custa 1 000 euros. Se analisarmos isso isoladamente, realmente não dá lucro. Mas as vantagens são enormes quando se pensa em termos de sustentabilidade, com a redução na emissão de poluentes”, afirmou a ALFA Wolfgang Pelousek, um dos diretores da DB International.

A cidade de Amsterdã, na Holanda, tem uma política pública muito parecida. Suas ruas estreitas e os canais não permitem um bom fluxo de carros, muito menos espaço para estacionar. As viagens de bike são responsáveis por cerca de 40% do transporte urbano.
No Brasil, há projetos vagos falando sobre a criação de mais de 100 quilômetros de espaços especiais para o trânsito de bicicletas nas grandes cidades. Apesar do descaso do poder público, o número de ciclistas vem aumentando. A cada ano, são vendidas no país mais de 5 milhões de bikes, para todos os estilos e gostos (veja quadro). O trânsito e a violência são utilizados como argumentos para justificar por que os exemplos internacionais não podem ser replicados aqui.

Fonte: Revista Alfa, 30/11/2010
Projetos de Incentivo ao Uso da Bicicleta aqui.
Um comentário:
É isso mesmo a bicicleta vai voltar com tudo. Saúde e trânsito civilizado.
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