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Cidades a pedalar

Se há tendência urbana que parece ter vindo para ficar é a do uso da bicicleta no dia-a-dia. As autarquias investem na criação de percursos específicos, organizam-se movimentos e eventos de defesa deste meio de transporte – como os ‘encontros’ Cycle Chic, Bicicletada e Cicloficina –, surgem novas lojas de aluguer e venda de bicicletas e multiplicam-se os blogues dedicados ao tema.

Na região do Porto, por exemplo, é Gaia o município onde, a longo prazo, se pretende criar «um único percurso contínuo ao longo de todo o litoral» e «malhas de ligação entre a beira-mar e as zonas urbanas». Tem, actualmente, 11 ciclovias, num total de mais de 16 quilómetros. A mais recente é a da Avenida Beira-Mar, mas estão já projectados novos percursos na Madalena (Ribeira de Atiães), em Santa Marinha (Via da Misericórdia) e em Oliveira do Douro (Alameda do Areinho). A Câmara de Gaia prevê concluir «as duas primeiras até Julho e a última até final do próximo ano».

No caso do Porto, a ciclovia mais extensa tem oito quilómetros e faz parte de uma rede que, desde 2007, foi aumentada em cerca de 25 quilómetros.

«É notório, um pouco por toda a cidade, o aumento da procura por este tipo de transporte [bicicleta], cada vez mais associado às deslocações casa-escola e casa-trabalho – com especial incidência na zona da Asprela e em dias úteis», explica ao SOL fonte da autarquia. Nesta zona, onde se concentram inúmeras faculdades da Universidade do Porto, o projecto das ciclovias é mais recente, mas é também aqui que se pretende interligar todas as instituições de ensino superior.

Por outro lado, confirma fonte oficial da câmara portuense, «num contexto mais recreativo, existe um número crescente de ciclistas junto ao rio-mar, sobretudo ao fim-de-semana».

Já Matosinhos tem apenas três ciclovias, num total de cinco quilómetros, mas um projecto para, a médio prazo, criar «uma ciclovia ‘Atlântica’, ao longo de toda a orla costeira» do concelho, com sete quilómetros. Também neste município, a ideia é interligar os percursos numa rede.

Em relação às vias não específicas para pedaladas, Miguel Barbot, dono da loja Velo Culture, blogger e ‘activista’ do uso diário da bicicleta, aponta o Noroeste do Grande Porto como uma boa zona para pedalar. Destaca «o eixo entre a Senhora da Hora e a Boavista», por ser «uma zona muito grande, praticamente plana, onde se encontra de tudo um pouco – grande densidade habitacional, serviços, indústria, escolas, hospitais». Enorme potencial tem igualmente Matosinhos, onde «os grandes pólos habitacionais e de serviços se desenvolvem a apenas duas quotas».

Este consultor e micro-empresário pedala fervorosamente desde 2009 e vai para todo o lado de bicicleta. Diz que a sua vida mudou, a partir do momento em que a assumiu como principal meio de transporte. «Vivo a cidade a uma escala mais humana. Conheço, por exemplo, os merceeiros todos do bairro onde moro», revela o autor do blogue ‘Um pé no Porto e outro no pedal’.

Também em Lisboa, as ciclovias já estão ligadas em rede e, nos últimos quatro anos, houve uma grande evolução na criação de infra-estruturas e no uso da bicicleta na cidade. Segundo fonte do gabinete do vereador José Sá Fernandes, ao todo, a capital tem cerca de 40 quilómetros de percursos cicláveis e mais de 40 em Monsanto.

Nos últimos três anos, o município construiu três pontes pedonais e cicláveis – estando prevista a edificação de mais duas – e criou estacionamento para mais de 300 bicicletas, de forma a reforçar «uma rede ciclável contínua, de malha fechada, articulada com os transportes públicos e com o património ecológico e cultural», explica a mesma fonte.

«É um contributo para a inversão da tendência da utilização do automóvel privado em deslocações de curta distância, até cinco quilómetros, onde a bicicleta é um modo de transporte competitivo». E pode ser utilizado em deslocações diárias e de lazer.

Os troços mais recentes da ‘rede’ são a ligação entre a Rua Filipa de Vilhena e a Marquês de Fronteira, no alto do Parque Eduardo VII, e a ligação no Parque da Quinta da Granja; em curso está a obra da ciclovia de um quilómetro entre a Quinta do Alemão e o Parque da Belavista e em conclusão uma ponte pedonal e ciclável que liga as Olaias ao Parque da Belavista.

Muito por fazer

Na perspectiva de quem utiliza estes e outros percursos na cidade para se deslocar diariamente, Miguel Barroso, mentor do Lisbon Cycle Chic, refere que as Avenida Novas e a baixa pombalina «têm todas as condições para serem zonas excelentes para se pedalar», mas aponta a inexistência de ‘zonas 30’ e de medidas de acalmia de tráfego.

Miguel Barroso faz uso da bicicleta em cidade «há 20 anos» e é com agrado que vê que os «comportamentos [das pessoas] melhoraram substancialmente». Isto, porque, nos anos 90, «era uma aventura» pedalar, pois havia uma «falta de respeito gritante por parte dos automobilistas». E só no final dessa década do século passado é que «as coisas começaram a mudar».

Hoje, vê como positiva a criação de ciclovias, mas diz que «muita coisa pode ser feita» ainda. E dá exemplos: um controlo do estacionamento automóvel mais eficiente, a redução e acalmia do tráfego e a recuperação do papel do homem dentro da cidade.

Miguel Barbot concorda e diz que é preciso «controlar ainda mais a circulação automóvel, reduzindo os limites de velocidade, condenar, de forma veemente, comportamentos criminosos ao volante e sensibilizar os automobilistas».

Benefícios cardio-respiratórios

Além de ser amiga do ambiente e da carteira, a bicicleta traz benefícios à saúde de quem opta por este meio de transporte. Como explica Tiago Brito, personal trainer e coordenador de Treino Personalizado no Healthy Living Centers, em Lisboa, trata-se de «um exercício bastante completo, porque é capaz de proporcionar um bom treino aeróbio, ao mesmo tempo que tonifica e fortalece os músculos».

Quando se é iniciado, há alguns cuidados a ter, aponta Tiago Brito. Promover uma boa hidratação – sugere que se beba diariamente pelo menos dois litros de água e que se consuma sumos naturais, sopas, vegetais e fruta fresca –, aumentar gradualmente o grau de dificuldade, no que diz respeito ao tempo, à intensidade e ao percurso escolhido, e usar equipamento adequado e um cardio-frequencímetro são os conselhos do especialista.

Os benefícios ao nível da resistência cardio-respiratória e de força chegam ao fim de um mês. Isto a treinar três vezes por semana.

Fonte: Sol, 11/03/2012

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