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Uma cidade melhor para pedestres e ciclistas

Nas maiores cidades brasileiras, 38% das pessoas fazem seus percursos a pé, enquanto 3% optam pela bicicleta. Ou seja, 41% dos brasileiros não usam veículos motorizados para se locomover, segundo recente levantamento da Associação Nacional de Transportes Públicos e do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Se não oferecem transporte público de qualidade, nossas cidades tampouco estão devidamente equipadas para atender às necessidades do enorme contingente de cidadão que circula de bicicleta ou a pé.

A experiência de Bogotá, capital da Colômbia, tornou-se uma referência mundial por ter feito uma ampla reforma urbana que promoveu a integração dos vários modais de transporte e as condições para uma melhor convivência no trânsito entre motoristas, pedestres e ciclistas. Além da melhoria do transporte público, a cidade tem cerca de 340 quilômetros de ciclovias.

Só muito recentemente, mediante manifestação de grupos organizados, é que os administradores públicos no Brasil começaram a incluir em suas plataformas políticas e planos administrativos as ciclovias, assim como alternativas para melhorar a acessibilidade. Em São Paulo, por exemplo, acabam de ser inauguradas as primeiras ciclofaixas permanentes e que funcionam 24 horas para estimular o uso da bicicleta e garantir as mínimas condições de segurança para o ciclista nas faixas exclusivas para sua circulação.

De fato, é um grande avanço a criação das ciclofaixas e das chamadas rotas de bicicletas, com sinalizações adequadas, que permitem aos ciclistas compartilhar o espaço urbano com os veículos automotores. No entanto, a segurança e o conforto do ciclista requerem uma infra-estrutura que permita a integração do usuário da bicicleta ao tráfego, longe de vias saturadas ou de alta velocidade.

Numa cidade como São Paulo, com 18,8 milhões de habitantes, onde circula uma frota de quase de 7 milhões de veículos a cada dia, é importante integrar os meios de transporte ao máximo para garantir maior e melhor acesso às atividades da cidade, uma vez que estão espalhadas pelo vasto território. Já em cidades de médio e pequeno portes, em sua grande maioria, as viagens podem ser feitas de bicicleta do começo ao fim, devido a menores distâncias.

O que determinará o uso de ciclofaixas, ciclovias ou vias compartilhadas não é o porte da cidade e, sim, as características da via. De maneira geral, em vias com tráfego intenso e de alta velocidade, é indicado o uso de ciclovias para garantir a segurança do ciclista. E para vias menos movimentadas, de menor velocidade, uma ciclofaixa ou apenas a via compartilhada já garante a segurança e o conforto do usuário.

Nas ciclovias, recomenda-se o uso de peças de concreto, pois sua coloração clara reduz a absorção de calor na superfície do pavimento, melhorando o conforto térmico e diminuindo a formação de ilhas de calor, causadas pela impermeabilização do solo. A redução pode chegar a 20ºC. A qualidade da superfície, menos vulnerável ao surgimento de buracos, também reforça a segurança dos ciclistas, prevenindo a ocorrência de acidentes. O concreto desempenado moldado in loco proporciona conforto de rolamento, sem deixar a superfície lisa e escorregadia.

No caso de vias compartilhadas e ciclofaixas, o uso do pavimento de concreto também gera ganhos. Por não sofrer deformação plástica ou trilhas de rodas, e ter boa interface com outros tipos de pavimento, o concreto é fator de maior conforto e segurança para todos os usuários. Além de o pavimento ser uma variável importante para se evitar acidentes, bem como a sinalização vertical e horizontal, a educação no trânsito também é ponto-chave para a segurança no trânsito.

Com o apoio da Associação Brasileira de Cimento Portland, a Prefeitura de São Sebastião do Paraíso, em Minas, desenvolve projeto piloto para buscar as melhores soluções para a implantação de ciclovias na cidade e que poderá inspirar iniciativas em outros municípios.

Já em relação ao enorme contingente de pessoas que faz seus trajetos a pé, conforme o levantamento da ANTP/BNDES, apesar das regulamentações municipais, a falta de padronização e a qualidade da pavimentação ainda constituem obstáculos para um caminhar seguro. Buracos, pedras soltas, desníveis e uso de pisos escorregadios diariamente vitimam pedestres menos atentos ou os mais vulneráveis a tropeços, quedas e fraturas.

A uniformização do passeio público demanda a mobilização dos donos de imóveis num esforço conjunto de prefeituras e órgãos técnicos, que definem parâmetros para a construção de calçadas e auxiliam na transferência de conhecimento para que a paisagem e as condições de uso estejam dentro do chamado Desenho Universal. O termo refere-se a parâmetros de acessibilidade para a construção arquitetônica ou adaptação de espaços físicos acessíveis a todos os cidadãos. Também nesse caso, a ABCP estabelece parcerias com prefeituras, estimulando a adoção de tecnologias e práticas para melhorar as condições de acesso e circulação das pessoas.

Hoje, existem vários materiais que garantem a qualidade do piso e atendem às normas para construção e reforma das calçadas, como o ladrilho hidráulico, o pavimento intertravado, as placas de concreto e os concretos moldados in loco, entre eles o estampado. Além de assegurar as condições de segurança, contribuem para melhorar o visual das cidades.

O desafio das administrações públicas é implementar políticas que conciliem a convivência entre motoristas, pedestres e ciclistas e, ao mesmo tempo, melhorem a qualidade de vida das pessoas.

Fonte: Monitor Mercantil, 22/03/2012

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