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Bike pública não funciona sem ciclovia

Oscar Diaz, diretor do Instituto para Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) em Nova York, fala sobre como melhorar trânsito de SP

Imagens do trânsito de São Paulo muitas vezes não fazem jus ao problema dos congestionamentos na cidade. Ao vivo é pior. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) monitora cerca de 800 dos mais de 17 mil km de ruas de São Paulo. Em junho do ano passado, às 19 horas, 293 km desse total. Segundo pesquisa da Fundação Dom Cabral, São Paulo perde R$ 31 bilhões por ano com engarrafamentos — mais que o orçamento da cidade em 2010, que é de R$ 27 bilhões. O Rio de Janeiro perde R$ 15,5 bilhões. A pesquisa leva em conta as perdas com combustível, acidente e o tempo desperdiçado no trânsito.

Para discutir estes problemas, Galileu bateu um papo com o colombiano Oscar Diaz, diretor do Instituto para Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), baseado em Nova York.

Vendo de fora, o que você apontaria como o maior problema do trânsito de São Paulo?
A quantidade de carros. Tem muito carro na rua. Agora temos uma ciclovia sendo implantada na Marginal Pinheiros, o que é um começo. O governo local tem uma política pró-bicicleta interessante, mas o sistema de transporte de ônibus, no entanto, não é bom. Não foi bem feito. Outra coisa que não tem sentido é a extensão do Expresso Tiradentes, que era de ônibus, e agora vai ter uma continuação em monotrilho. Não tem sentido as pessoas descerem do ônibus para pegar outro meio de transporte. Eu não sei porquê eles têm, agora, uma fascinação pelo projeto do monotrilho. Monotrilho tem uma capacidade reduzida. Eles poderiam fazer um BRT (ônibus mais rápidos e eficientes, com corredores exclusivos) de grande qualidade, pois têm demanda.

E o pedágio urbano, você acha que funcionaria em São Paulo?
Sim. Deveriam implantá-lo nas ruas de maior engarrafamento. Dessa forma, haveria menos carros, menor poluição, mais pessoas usando o transporte público ou a bicicleta. Alguém me falou que tem mil carros novos, por dia, em SP. É uma loucura. É urgente uma política de restrição.

E qual seria a melhor solução para as grandes cidades?
Melhorar o serviço de ônibus. Acho que tem que fazer o BRT. Os monotrilhos são mais caros e têm capacidade menor. Não se pode cobrir, dessa forma, a cidade. É como em Bogotá você precisa de políticas mais fortes.

E as bicicletas, você acha que funcionariam no trânsito de São Paulo?
Acho que sim, mas têm de ser protegidas, em ciclovias, espaços específicos para bicicletas. Não que esperamos que todos vão andar de bicicleta, mas se você tiver 10% da população indo de bicicleta, já é um ganho para a cidade. Nesse momento eu acho que sistemas como o de Paris (Lyon, Velib) não funcionariam, ainda, por questões de segurança. O primeiro passo é implantar a ciclovia.

Uma coisa bem séria aqui no Brasil é o desrespeito dos motoristas com os ciclistas. Como mudar isso?
Fazer uma boa ciclovia é uma boa mensagem. Eu ando de bicicleta. Minha vida tem o mesmo valor que da pessoa que vai de carro. Se tem o mesmo valor, porque não posso ter o direito de ter uma via exclusiva? É um direito. É muito engraçado as pessoas dizerem que se trata de uma cultura. Não se pode fazer conscientização sem infraestrutura. Primeiro infraestrutura, depois conscientização. Incentivo ao uso da bicicleta tem que ser questão de política pública. Nova York está fazendo isso agora. Implantando ruas exclusivas para pedestres e ciclistas.

O que é melhor: metrô ou vias exclusivas para ônibus?
Com o mesmo dinheiro que você tem uma linha de metrô, você pode ter muito mais extensão de vias exclusivas para ônibus, você pode ter mais e cobrir melhor a cidade, além de transportar mais gente.

Porque as cidades ficam patinando na questão da mobilidade?
Porque são decisões difíceis, que exigem sacrifícios. E é muito difícil ter políticos que tomam decisões difíceis.

Fonte: Revista Galileu, 17/05/2010


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