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Arquiteto americano defende a criação de ciclovias e transportes sustentáveis

Conhecido mundialmente por seu ativismo em favor dos meios de transportes alternativos, e pela criação de inúmeros projetos que valorizam as atividades ao ar livre e os espaços verdes, o arquiteto americano Jeff Olson pode ser considerado por muitos um idealista.

Mas o fluxo contínuo de novos países e cidades que entram em contato com sua empresa, a Alta Planning + Design, no estado de Nova York (EUA), interessadas em implementar suas ideias mostra que ele não está errado. E ter centros urbanos que respeitem o meio ambiente é uma realidade possível.

Uma das estrelas da Conferência Internacional de Cidades Inovadoras (CICI 2010), que acontece de 10 a 13 de março em Curitiba-PR, Olson falou com o iG sobre a importância de se ter infraestruturas “verdes” nos grandes centros urbanos e sobre seus novos projetos. Caso da ciclovia de cerca de 500 quilômetros que está implementando em Dubai.

iG: Como a substituição de veículos motorizados por bicicletas pode contribuir para a urbanização sustentável das cidades?
Jeff Olson:
Andar e pedalar são grandes soluções para as cidades. Eu e minha equipe estamos trabalhando em cidades como Portland (no estado americano do Oregon), onde centenas de quilômetros de ciclovias foram construídas por menos do que se gastaria com a construção de um quilômetro de estrada. Cidades de todos os tamanhos e de diferentes economias têm percebido que as pessoas precisam andar mais a pé e de bicicleta para melhorar os índices de saúde pública, reduzir a dependência por combustíveis e para criar um meio de transporte mais barato.

iG: O que irá apresentar na CICI 2010?
Jeff Olson:
A conferência é uma grande oportunidade para dividirmos idéias e aprendermos uns com os outros. Estarei apresentando uma variedade de soluções que têm funcionado com sucesso, seja em grandes cidades como em pequenas comunidades. Como, por exemplo, alguns projetos internacionais feitos no México, Canadá, Europa, China, Coréia e Oriente Médio, além de experiências nos Estados Unidos.

iG: Você poderia citar algumas dessas soluções?
Jeff Olson:
Um dos meus projetos favoritos é o EastBank Esplanade, em Portland (EUA), onde nós criamos um caminho flutuante sob um rio que fica próximo a uma autoestrada, ladeada por trilhos de trem. Nosso objetivo foi proteger a corrente do rio dos abusos ambientais que uma opção tradicional acarretaria.

iG: A interação de transporte, recreação e urbanismo, sem danos ao meio ambiente, se dá de forma diferente em países de primeiro mundo, como os Estados Unidos, e em desenvolvimento, como o Brasil?
Jeff Olson:
Existem muitas similaridades e diferenças entre cidades americanas e brasileiras. Os dois países apresentam variados tipos e situações urbanas, até mesmo pelo grande número de cidades. Por outro lado, caminhar e andar de bicicleta são soluções universais. Cada ser que anda é um pedestre e andar de bicicleta continua muito popular. A grande questão está em colocar o transporte sustentável como prioridade entre os líderes, em níveis regionais e nacionais.

iG: Você sente algum tipo de resistência de governos ou de grandes empresas privadas do ramo de transporte em relação a suas idéias?
Jeff Olson:
A resistência à inovação geralmente vem da falta de entendimento. Nós descobrimos que quando as pessoas aprendem o valor que uma infraestrutura “verde” tem, elas agarram os projetos com paixão. É importante trabalhar em sintonia com a opinião pública, com a iniciativa privada e organizações não-governamentais para que as mudanças aconteçam.

Foto: Divulgação Ampliar

Ciclovia em Dubai terá 500 quilômetros de extensão e revolucionará urbanismo nos Emirados Árabes

iG: Sua empresa, Alta Planning + Design, desenvolveu um plano para uma extensa ciclovia, com cerca de 500 quilômetros, para a cidade de Dubai, nos Emirados Árabes. Quais os desafios de um projeto como este?
Jeff Olson:
Os Emirados Árabes estão trabalhando para se tornar um modelo em transporte sustentável. Nossos planos continuam sendo implementados, mesmo com tantas mudanças que a economia mundial sofreu recentemente. O grande desafio tem sido encontrar espaço para caminhar e pedalar num lugar que já está todo tomado por construções. Sem falar das diferenças culturais e a velocidade com que as coisas mudam.

iG: Como funcionaria o conceito de transporte “verde” numa cidade populosa como São Paulo?
Jeff Olson:
As megacidades enfrentam enormes desafios para prover serviços básicos como água, esgoto e segurança. É importante entender que o “movimento verde” não é a total solução para estes problemas. Mas se nós pudermos fazer com que 10% do transporte de uma cidade seja do tipo sustentável, e isso pode ser feito a custos bem mais baixos se comparado aos transportes a base de combustíveis, já será um grande investimento para o futuro. O maior desafio é conseguir integrar espaços para pedestres dentro da política pública, com todo planejamento de tráfico, estradas e rodovias incluindo a infraestrutura necessária para se transitar com segurança e qualidade.

iG: Qual o papel de governos e companhias privadas para o desenvolvimento dessas idéias?
Jeff Olson:
Ao governo cabe criar políticas específicas, proporcionar as fontes necessárias e liderança. Já as empresas têm o potencial de transformar os locais de trabalho. Por exemplo, nos Países Baixos, grandes companhias criaram um programa que reduz em 20% a necessidade do uso de transportes convencionais, com a distribuição entre os funcionários de vale-transporte, oferecendo estacionamento seguro para bicicletas e criando escalas de trabalho mais flexíveis.

iG: E qual o papel das pessoas que formam as cidades? A educação é um fator importante?
Jeff Olson:
Estamos envolvidos no Programa Nacional de Comunidades Amigas do Ciclismo, criado pela liga de ciclistas norte-americanos. O programa é baseado em cinco áreas: engenharia, educação, aplicação de regras, encorajamento e evolução. Todas estas áreas precisam estar balanceadas para se chegar a soluções de sucesso. O ideal é trabalhar com profissionais de saúde, escolas, dirigentes comunitários, empresários locais... todos com uma visão comum. Partilhando a visão de futuro de várias pessoas, nós temos a oportunidade de fazer do mundo um lugar melhor para se viver.

Fonte: IG, 11/03/2010

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