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Para ir de bicicleta é preciso mais segurança

Em Curitiba, existe um artista de rua famoso por suas composições musicais, quase todas sobre o ato de pedalar. Em uma das músicas, Plá – como é conhecido – afirma que para andar de bicicleta “tem que ter moral”. Na opinião da psicóloga Renata Pinheiro de Aquino, 26 anos, é preciso um pouco mais que isso.

Participante do desafio de mu­­dar de modal de transporte por uma semana, proposto pela Gazeta do Povo – para marcar o Dia Mundial Sem Carro, no dia 22 de setembro –, Renata deixou o Peugeot 206 na garagem de casa, no bairro Água Verde, para ir trabalhar, no Centro Cívico, e estudar, no Centro, pedalando.

Ela conta que apesar das mu­­dan­­ças positivas que a bicicleta pro­­porcionou, quase desistiu. “A cidade não é nem um pouco propícia aos ciclistas. As ruas estão cheias de motoristas mal-educados. A falta de ciclovias é grave, principalmente para a segurança dos ciclistas. Ficamos vulneráveis. Se houvesse mais investimentos em ciclovias, com certeza, eu usaria a bicicleta com muito mais frequência. E estou certa de que centenas de outras pessoas fariam o mesmo”, diz.

Para completar o seu trajeto diário, de um pouco mais de oito quilômetros, explica a psicóloga, foi preciso muita força de vontade. “Eu não tinha noção de rotas e isso dificultou. Mas com o tempo, fui ficando mais confiante, pegando os caminhos corretos e me adaptando à rua. Acho que trocaria o carro pela bicicleta alguns dias por semana, sem problema. Foi uma experiência muito interessante.”

De acordo com Luís Cláudio Pa­­trí­­cio, coordenador do Grupo Trans­­­­porte Humano e um dos fundadores da União dos Ciclistas do Brasil (UCB), pedalar só traz vantagens. “Benefícios para a saúde e pa­­ra o meio ambiente. A questão eco­­nômica também é uma vantagem, as pessoas não percebem o quanto elas gastam com um carro.”

Segundo André Caon, presidente da Sociedad Peatonal, em Curitiba, nos últimos anos, todos os investimentos foram direcionados para o carro. “A bicicleta ficou para trás. Não foram mais construídas ciclovias e o Plano Cicloviário nunca saiu do papel. Os bicicletários estão abandonados e a falta de respeito dos motoristas é um problema crônico. A prefeitura tinha que começar a repensar o planejamento urbano da cidade, privilegiando o uso desse modal, que além de econômico, não polui”, diz.

Meio de transporte

A bicicleta é o meio de transporte mais usado do país. De acordo com a Associação Brasileira dos Fabri­­can­­tes de Motocicletas, Ciclo­­mo­­tores, Motonetas, Bicicletas e Simi­­lares, o Brasil é o 3.º maior produtor e o 5.º maior consumidor de bicicletas do mundo, com 5,7 milhões de unidades produzidas e consumidas em 2009. No Brasil, existem duas bicicletas para cada carro.

Dados de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Plane­­ja­­mento Urbano de Curitiba (Ippuc), com 2.825 pessoas de Curi­­tiba, revelam que 86% dos ciclistas usam a bicicleta para ir e voltar do trabalho. A magrela é usada todos os dias por 77,5% dos entrevistados. Para 43% dos ciclistas, o maior problema é a falta de ciclovias. Para 41,3% dos usuários, as maiores dificuldades são a falta de respeito dos motoristas e o trânsito.

Plano de reestruturação

Segundo Márcio Augusto de Toledo Teixeira, chefe do setor de Projetos Viários do Ippuc, a prefeitura está implantando 42,5 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas na Linha Verde, na avenida Vereador Toaldo Túlio, na Avenida Mario Tourinho, na Fredolin Wolf e na Marechal Floriano Peixoto. “Além dessas iniciativas, o Ippuc está elaborando o Plano Cicloviário, prevendo medidas de reestruturação da malha cicloviária de curto, médio e longo prazos”, conta.

De acordo com Marcos Isfer, presidente da Urbanização Curitiba S/A (Urbs), um novo conceito está surgindo na cidade: o de estimular a bicicleta como meio de transporte, não apenas como de lazer. “A ciclofaixa é uma das ações do Plano Diretor Cicloviário de Curitiba, que ampliará a malha cicloviária da cidade. Campanhas educativas também serão feitas para incentivar o uso da rede cicloviária da cidade, revelando o papel do ciclista na melhoria do trânsito e do meio ambiente”, diz.

A elaboração do Plano Cicloviário faz parte do programa Pedala Curitiba que, segundo Isfer, também prevê a recuperação da malha cicloviária atual. “As calçadas feitas em asfalto pela prefeitura serão analisadas e poderão ser incorporadas à infraestrutura cicloviária da cidade. Um estudo está sendo elaborado pelo Ippuc, em parceria com as Secretarias Municipais de Obras e Meio Ambiente e a Diretran, para o detalhamento da sinalização das ciclovias, tanto as que têm uso preferencial, quanto as que são compartilhadas. Os projetos para a sinalização atenderão o Código de Trânsito Brasileiro. Com o levantamento, serão acrescentadas ao mapa das ciclovias existentes atualmente as diretrizes para o futuro da cidade. Serão apontadas as ruas onde, no futuro, haverá alguma facilidade para o uso da bicicleta, que pode ser uma ciclovia ou ciclofaixa”, revela. Sobre os bicicletários, atualmente sem uso, Isfer explica que não houve empresas interessadas em ocupá-los. “A proposta agora é incorporá-los ao Plano Cicloviário da cidade”, afirma.

Fonte: Gazeta do Povo, 21/09/2010

Projetos de Incentivo ao Uso da Bicicleta aqui.

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