Em 2008, a turma de convênio 3T04 da escola pública Instituto de Educação Estadual do Pará (IEEP) realizou um trabalho para apresentação na Semana Nacional de Trânsito em setembro. O tema escolhido pela turma foi “Os ciclistas do IEEP”. Os alunos escolheram o tema principalmente por haver no colégio um considerável número de ciclistas. A turma fez pesquisas pela Internet e obras específicas e elaborou cartazes explicativos. Também foram aplicados questionários a alunos ciclistas da escola.
Abaixo os resultados de pesquisa realizada:
Foram aplicados 10 questionários para alunos do colégio. 60% disseram ter de 16 a 18 anos; 40% de 19 a 21 anos. 70% do sexo masculino e 30% do sexo feminino. 90% da 3ª série e 10% da 2ª série. 80% do turno da tarde; 10% do turno da noite e 10% do turno da manhã. Entre os locais de moradia, prevaleceram os bairros Condor (20%), Cremação (20%) e Terra Firme (20%). Os principais deslocamentos com bicicleta de segunda à sexta-feira mencionados foram casa-trabalho-escola-casa (30%) e nos fins de semana os deslocamentos casa-comércio ou feira-casa. De segunda à sexta-feira responderam que o horário que mais usam bicicleta é pela manhã (50%) e nos fins de semana predominaram os horários da manhã e da tarde. 70% disseram que usam a bicicleta com freqüência. Apenas 20% disseram que se pudessem mudariam de modo de transporte (para carro).
As maiores dificuldades apontadas foram: Congestionamentos (40%); Falta de respeito dos motoristas (40%). Outros: Ruas esburacadas; asfaltamento com problemas, falta de ciclovias, assaltos.
Entre as sugestões : criação de ciclovias (80%). Outras: melhorias no trânsito, mais respeito dos motoristas em relação aos ciclistas, mais campanhas educativas, incentivar mais o uso de bicicletas.
Comentários:
No Brasil, há a necessidade de maiores investimentos para melhorar o trânsito e o transporte público. É preciso investir em meios de transporte público coletivo e também no transporte por bicicleta. O uso cada vez maior de automóveis nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI tem causado vários problemas que afetam a vida das cidades como congestionamentos, conflitos, acidentes, desgaste psicológico em motoristas e outros participantes do trânsito, poluição, abertura de mais vias afetando o patrimônio cultural e o meio-ambiente.
A bicicleta deve ser considerada como uma opção relevante de transporte em cidades brasileiras. Segundo o Caderno 1, da Coleção Bicicleta Brasil, Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta, a respeito do uso da bicicleta no Brasil: “Diz-se que a bicicleta é “transparente” ou “invisível” na circulação não só por suas características físicas extremamente simples, mas também pelo baixo impacto que causa ao ambiente, seja pelo porte da infra-estrutura necessária à circulação e ao estacionamento que demanda pouco espaço, seja pela ausência de ruídos e de emissão de gases. Muitas vezes a bicicleta não é bem vista pelos usuários das vias, somente sendo percebida quando julgam que ela “atrapalha o trânsito”, não se levando em conta o inestimável benefício social que ela representa”. E ainda: “Pode-se afirmar que a bicicleta é o veículo individual mais utilizado nos pequenos centros urbanos do País (cidades com menos de 50.000 habitantes), que representam mais de 90% do total das cidades brasileiras. Ela divide com o modo pedestre a esmagadora maioria dos deslocamentos nestas cidades”
Em relação às grandes cidades brasileiras, ainda conforme o referido livro: “Nas grandes cidades há oferta significativa de transporte coletivo, associada a um tráfego mais denso e agressivo, representando maior tempo despendido nos deslocamentos diários. Por isto mesmo, as bicicletas se encontram presentes em grande número nas áreas periféricas das grandes cidades, onde as condições se assemelham às encontradas em cidades médias, sobretudo em função da precariedade dos transportes coletivos e da necessidade de complementar seus percursos. As bicicletas são, portanto, os veículos individuais mais utilizados no País, constituindo na única alternativa ao alcance de todas as pessoas, não importando a renda, podendo ser usadas por aqueles que gozam de boa saúde a partir da infância até a idade mais avançada”.
Um exemplo de pesquisa citado nesse livro é uma que foi realizada com ciclistas das cidades de Lorena (SP), Santo André (SP), Florianópolis (SC), Piracicaba (SP). Os maiores problemas citados no trajeto foram: 1º) Trânsito intenso de veículos motorizados; 2º) Buracos e imperfeições no pavimento; 3º) Falta de ordem nos cruzamentos; 4º) Ausência de ciclovias e outros.
Em comparação com a pesquisa realizada pelos alunos da turma 3T04, vemos a questão chamada pelos entrevistados pela turma como “congestionamentos” e acima vê-se: “Trânsito intenso de veículos motorizados”; Ruas esburacadas e problemas no asfaltamento, praticamente descritos quase da mesma forma e também a necessidade apontada pelos consultados da ambas as pesquisas de haver mais ciclovias.
Em Belém, o terreno é plano e portanto não apresenta elevações difíceis para a circulação de bicicletas. Isso já é um aspecto positivo para um uso maior de bicicletas. Outros motivos que poderiam incentivar um maior uso das bicicletas para o transporte costumeiro são aqueles mais gerais como ser um hábito saudável utilizar as bicicletas diariamente, ser um meio de transporte não poluente, ser econômico etc. É necessário assim, criar condições mais propícias para um uso maior de bicicletas seja para lazer ou como meio de transporte.
Segundo o Programa de Mobilidade por Bicicleta: “A implantação de infra-estrutura cicloviária deve garantir não só a segurança de ciclistas, mas também de outros usuários das vias, promovendo visibilidade e previsibilidade, sendo pensada sempre como uma função do volume de tráfego e velocidade. Projetos geométricos, medidas de moderação de tráfego, proteção física para pedestres e ciclistas, sinalização, fiscalização etc, são medidas que contribuem quando bem planejadas, para a segurança no sistema viário e para a redução de acidentes”.
Considerando-se em Belém os estudantes de diversas escolas do município, possibilitar um maior uso das bicicletas como realmente um meio de transporte seguro, poderá incentivar que mais estudantes utilizem a bicicleta para ir à escola e voltar para casa, contribuindo desta forma para a saúde deles e também para uma maior freqüência escolar quando a escola fica a uma distância considerável para ir à pé (mas não para ir e voltar para casa de bicicleta) e não há dinheiro suficiente nem para a meia-passagem de ônibus. Também, considerando-se por exemplo, o caso de estudantes com maior poder aquisitivo, que usam o carro para se deslocar para escolas e faculdades, a melhoria nas condições do trânsito para os ciclistas poderá talvez incentivar pelo menos uma parcela deste grupo a se deslocar para as instituições de ensino por meio de bicicletas. Claro que devem ser considerados nesses casos a distância, a situação climática, os horários de aulas e o fato de que, para muitos estudantes acostumados a ir para a escola ou faculdade de carro, o uso do carro é em muitas vezes um símbolo de status social. É importante também reforçar a segurança policial, pois não é raro ciclistas serem assaltados em Belém.
O número de carros circulando nas grandes cidades brasileiras é muito elevado. Segundo notícia publicada no jornal “O Liberal” de 26/02/2009: “Belém tem hoje, no setor de transportes, um dos desafios mais preocupantes para os próximos anos.
Dados divulgados pelo DETRAN/PA mostram que Belém fechou 2008 com uma frota de 255.602 veículos automotores. Além de representar um aumento de 17% em relação ao ano anterior, esse número mostra a urgência de reorganizar o caótico trânsito para evitar que problemas como congestionamentos e acidentes afetem a vida dos belenenses mais dos que têm afetado. A cidade tem mais carros que ruas para o tráfego fluir”. Portanto, é preciso se valorizar mais outras opções de transporte que podem contribuir muito para a vida urbana de Belém, como o transporte por ônibus, o transporte fluvial e também a bicicleta. Um sistema integrado também poderia ser pensado envolvendo estes modos de transporte. E é importante destacar que a Educação para o Trânsito deve enfocar também a questão dos ciclistas, tanto deles em relação aos demais participantes do trânsito como destes em relação aos ciclistas. Portanto, órgãos de trânsito e escolas podem desenvolver atividades neste sentido.
Outras questões também são relevantes. Por exemplo, Elias (2009), ressalta que além dos investimentos do poder público com a construção de ciclovias, faixas compartilhadas, bicicletários e da ligação intermodal é preciso uma maior participação da sociedade, mencionando indústria, comércio, universidades, condomínios e escolas que devem possuir uma estrutura mínima que possibilite que ciclistas tenham condições de tomar banho e se trocar e garantindo-se que suas bicicletas tenham uma guarda segura. O mesmo autor diz: “andar de bicicleta faz com que se olhe para sua cidade de uma maneira diferente, pois a percepção do cenário visto sobre a sela da sua “magrela” difere drasticamente do cenário visto da janela do seu carro. As vantagens de utilizar a bicicleta são inúmeras, mas o melhor ainda está por vir: pedalar é a garantia de emissão zero de poluentes no nosso meio-ambiente”.
Notícia publicada no jornal acima citado, de 19/03/2009 alerta sobre a questão dos ciclistas em Belém: “Ausência de ciclovias ou ciclofaixas na maioria das ruas e a falta de respeito por parte dos condutores de automóveis estão entre as principais queixas de quem utiliza a bicicleta como meio de transporte no trânsito de Belém. No ano passado, os acidentes envolvendo ciclistas representaram quase 4% das ocorrências registradas pelo Departamento Estadual de Trânsito do Pará na capital”.
Para concluir, uma citação de Bianco (2003), especialista da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) para o transporte cicloviário: “O incremento do uso da bicicleta, na ótica da ANTP, tem como objetivo último buscar uma mobilidade que garanta a acessibilidade a todas as nossas cidades por todos os seus habitantes, de forma a promover uma apropriação democrática dos espaços da circulação urbana, priorizando os sistemas de transporte coletivos, as pessoas com restrição de mobilidade, à pé e de bicicleta, em relação ao automóvel no sentido de promover a inclusão social, principalmente dos mais desvalidos. Essa é a nossa luta”.
Referências bibliográficas:
Bianco, S. O papel da bicicleta para a mobilidade urbana e a inclusão social. Revista dos Transportes Públicos. ANTP. São Paulo (SP) Ano 25. 3º Trimestre. 2003.
Caderno 1, da Coleção Bicicleta Brasil, Programa Brasileiro de Mobilidade por Bicicleta-Programa Brasileiro de Mobilidade por bicicleta.
_________. “Ciclistas são vítimas da imprudência”. Jornal “O Liberal”,
19 de março de 2009. Belém, Pará.
Elias, C. “Bicicleta como meio de transporte”. Chat Perkons. Maio de 2009.
_________. “O desafio do futuro: como agüentar tanto carro?”. Jornal “O Liberal”,
26 de fevereiro de 2009. Belém, Pará.
Vasconcelos, E. A Cidade, O Transporte e o Trânsito. Fenaseg. São Paulo (SP). 2005.
Fonte: o Autor e Blog teclandoseaprende, 15/12/2010
Projetos de Incentivo ao Uso da Bicicleta para ir para a escola aqui.
Um comentário:
Obrigado pela publicação. Foi uma boa supresa. Um abraço. Márcio Rodrigues
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