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Bicicleta e a mudança da cidade

Que bom! Vamos quebrar a inércia da cidade. Em São Paulo, a inércia é reclamar da cidade. Ela tem problemas. Vários. Mas tem coisas boas. As pessoas não vêm para cá só por conta das oportunidades de emprego. Têm uma energia construtiva e criativa que fazem a diferença e compensam em grande parte as agruras que existem. E que poderiam ser menores.

A notícia é que vem mais bicicleta por aí. Um banco pretende patrocinar, como já o faz no Rio de Janeiro, uma frota de 3000 bicicletas, distribuídas por 300 pontos na cidade. Esses pontos serão em estações de metrô onde já existem dezesseis centrais de um outro projeto, do Instituto Parada Vital, estações de trem, terminais de ônibus e pontos no interior dos bairros. Que é uma grande e saudável novidade.

Mais um passo para chegarmos a uma infraestrutra cicloviária em São Paulo. Que está só começando. Houve atraso histórico imperdoável, como o do metrô, que só rodou em 1974, mais de 60 anos depois de Buenos Aires.

Além dessas bicicletas, em março, começa o projeto Escolas de Bicicleta. Atinge os 46 CEUs,que são estruturas escolares fantásticas para nossas crianças. Em cada um haverá 100 bicicletas e dois monitores. Elas, de início, vão ter treinamento e haverá 55 paraciclos por unidade, feitos de refugo de material plástico comportando 110 bicicletas. Com os paraciclos, haverá um contêiner de recolhimento de garrafas PET para dar início a gincanas ecológicas de coleta e reciclagem de garrafas. Visam a conscientizar toda a comunidade escolar para a importância da reciclagem e coleta seletiva.


Gustavo Rambini/Divulgação
Estação Santa Clara, projeto Bike Rio
Estação Santa Clara, projeto Bike Rio

Além das bicicletas que terão quadros feitos de material plástico e bambu com resina de mamona, serão entregues capacetes, coletes refletivos, bagageiros, buzinas, espelhos retrovisores e cadeados.

Alunos de 10 a 14 anos integrarão o programa e andarão em ciclorrotas estabelecidas pela CET, que está apoiando o movimento. Vão andar em ruas mais tranquilas e acessíveis.
Tem algum risco? Sim, como qualquer coisa inovadora. Nada que não possa ser vencido com método, disciplina e treinamento. Nos países nórdicos, as crianças ganham atestado de capacitação para conduzirem bicicletas aos 9 anos. Dois alunos por comboio serão treinados para serem monitores no futuro. Líderes do grupo.

São Paulo precisa de ousadia. A bicicleta pode mudar São Paulo. Quando existirem ciclovias que se estendam pelas marginais e avenidas de fundo de vale, e ciclofaixas nas principais avenidas, teremos a cidade 85% acessíveis para os ciclistas. Pontos para conserto e vestiários com chuveiros como existem na Ciclovia do Rio Pinheiros completam a infra necessária.
Vamos chegar lá. É um processo irreversível. Porque é uma solução em todas as grandes cidades. Ninguém está reinventando a roda. Estamos recuperando o atraso.

A região da avenida Paulista poderia ser um projeto piloto para o "bikeboy", substituindo o motoboy. O "bikeboy", num raio de 3 km, é mais eficiente que o motoboy.

Para sairmos desse "cantochão" que embala sempre as nossas reclamações sobre a cidade, há boas iniciativas como essas. Quando estivermos auferindo as vantagens de São Paulo com o ciclismo como um modal respeitado, vamos lamentar o tempo que perdemos.

Andar a pé e de bicicleta trazem um novo padrão: ver a cidade em uma velocidade mais humana que nos permite enxergar e usufruir os inúmeros benefícios que ela tem.

Pode estar começando uma nova Semana da Arte Moderna. A arte de ter uma cidade construída para nós.

Fonte: Folha.com, 16/02/2012

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