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Caos expõe falta de alternativas de transporte

Ruas lotadas de carros, passageiros disputando os poucos tá­­xis disponíveis, comércio vazio, empresas fechadas. Se os efeitos da greve dos motoristas e cobradores do transporte público foram diversos – e adversos –, a lição que se tira do caos instaurado ontem na capital é uma só: Curitiba não pode mais depender de um único modal de transporte. Para especialistas, a am­­plitude da paralisação evidencia a falta de alternativas de deslocamento.

Professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Uni­ver­sidade Federal do Paraná (UFPR), o pesquisador Ramiro Gonçalez afirma que o cenário observado ontem “é muito mais grave do que as pessoas pensam”. “Se o transporte de ônibus para em Curitiba, não temos alternativa. Como esse modal sempre funcionou na cidade, nos acostumamos a não ter outras opções além do carro e do ônibus. O que aconteceu foi um alerta, porque não há um plano estratégico ou projetos alternativos para situações limites como essa”, analisa Gonçalez, que também foi afetado pela greve. A creche do filho dele, por exemplo, não abriu ontem.

A infraestrutura cicloviária deficiente e a falta de outras alternativas de transporte de massa – como trem e metrô – fizeram com que o ônibus se tornasse, ao longo dos anos, a única opção viável disponível. E, quando essa opção falha, todo o sistema entra em colapso. “Se um modal para, os outros deveriam dar conta do recado. Essa é a visão de mobilidade sustentável, em que você promove à população o acesso a diferentes maneiras possíveis de deslocamento. E é o que não ocorre em Curitiba”, defende o urbanista e mestre em Gestão Urbana Rafael Sindelar Barczak.

Esgotamento

Para o engenheiro civil Eduar­do Ratton, professor do Depar­tamento de Transportes da UFPR, mesmo com o trânsito à beira do esgotamento, ainda falta vontade política em investir em mobilidade urbana. “Curitiba se esqueceu que há outras opções mais modernas de deslocamento, como o me­­trô e o VLT [Veículo Leve sobre Trilhos]. Mas essas alternativas exigem recursos, projetos e muito tempo para saírem do papel, que vai além do prazo do mandato do gestor. E, no imediatismo, ninguém faz na­­da”, opina.

O engenheiro também critica o que vê como uma consequência inevitável da greve dos motoristas e cobradores: o au­­mento da tarifa do transporte. “Muito provavelmente na solução da greve vai ser anunciado o reajuste dos salários, o que vai ser usado como desculpa para aumentar a tarifa. Que já é alta, mesmo com um serviço péssimo”, diz.

Fonte: Gazeta do Povo, 15/02/2012

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